Domingo, 22 de Março de 2009

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O que é o amor? Hoje pensava sobre o amor. Aliás, pensava sobre o que poderia ser o amor. Vejo o mundo à minha volta e vejo muita gente acompanhada, muitos casais, muitos namorados, muitos cônjuges, muitos parceiros, etc. Vejo nesses mesmos "casais" muitos beijos, muitos abraços, muitas trocas de gestos, alguns olhares e algumas palavras, mas, no entanto, confesso que quanto mais vejo todas estas demonstrações de afecto mais confuso fico relativamente ao amor e aquilo que ele representa.

Uma das coisas que me faz confusão relativamente ao "amor" deve-se ao facto de ver que o mesmo indivíduo que hoje abraça a mulher, olha-a nos olhos e diz que a ama com todo o sentimentalismo do mundo, é o mesmo que amanhã está agarrado a outra, de joelhos, a pedi-la em casamento e a jurar ser dela para sempre, e no dia seguinte já está prestes a cortejar uma outra que se lhe atravesse no caminho. Simultaneamente, a mesma mulher que suspira vezes sem conta ao longo do dia pela sua alma-gémea, é a mesma que amanhã suspira por outro e que no dia a seguir enche de mensagens românticas o telemóvel de um terceiro. Repito: o que é o amor?

Olho à minha volta e vejo gente que investe rios de dinheiro no casamento de sonho com a sua cara metade, que no momento do casamento chora de emoção por ser o dia mais importante da sua vida, que suporta o acordar rabugento do/a seu/sua companheiro/a, mas ao fim de alguns anos aquela camisa às riscas não faz muito sentido, discutem, separam-se, divorciam-se, odeiam-se. Refira-se que também os há que se ficam pelo "divorciam-se".

Namoram durante anos, fazem férias juntos, passam horas e dias juntos, fazem juras de amor, compram casa juntos e juntam-se, mas num fatídico dia foi deixada uma toalha molhada em cima, e não dentro, do cesto de roupa para lavar. Discutem, separam-se.

Saem juntos, convivem, identificam-se um com o outro e sentem-se verdadeiras almas gémeas, mas aquela terceira ida a Bali dá a entender que a relação caiu numa rotina. Desmotivam-se, separam-se.

Insisto na pergunta inicial: o que é o amor?

Não me lembro de como era no passado, porque só me recordo desta vida que tenho há já alguns anitos (e em Maio completo mais um), mas tenho um sétimo sentido (dado que o sexto é a intuição e esta não se aplica ao passado, apenas ao presente e ao futuro) que me diz que antigamente tudo era diferente. Calma, afinal ainda me lembro de ver gente a insistir nas relações. Sim, lembro mesmo. É certo que eram tempos em que se calhar muitas pessoas se escolhiam um pouco à sorte, ou deixavam-se escolher pela primeira pessoa que aparentasse ostentar um mínimo de credibilidade e que possivelmente tentavam reabilitar vezes sem conta muitas dessas relações impossíveis onde os alhos não tinham mesmo nada a ver com os bugalhos. Acresce ainda que existia alguma pudor social relativamente à troca de companheiros, associando-se essas pessoas à leviandade. Ainda assim, até certo ponto, as pessoas esforçavam-se para que as coisas dessem certo por iniciativa própria! Hoje é precisamente o oposto: raros são os que ousam esforçar-se para que uma relação dê certo, a menos que tenham algum interesse directo nisso.

Na minha opinião, o amor é deixar alguém literalmente KO, sem conseguir raciocinar ou concentrar-se no que faz de tanto que quer estar com a pessoa que ama. O amor é algo que nos faz querer estar com aquela pessoa na saúde e na doença, na felicidade e na adversidade, e em todos os outros momentos! Esta é a minha concepção de amor. Mas, que sei eu sobre o amor? Eu so só um tipo que, se enviar mensagens a alguém durante o dia a dizer que gosto dessa pessoa e que quero estar com ela, sou obsessivo e maníaco. Sim, nos dias de hoje sou obsessivo, mas antigamente quantas e quantas mulheres não ansiavam por este género de manifestações por parte dos seus companheiros? No século XXI sou obcecado, mas há alguns anos atrás ainda era considerado um romântico...

Hoje chamam amor àquilo que outrora era paixão, paixão à tesão e ao amor obsessão. Ou seja, quando se diz que um casal se ama, quer dizer que hoje se amam muito e são felizes para sempre, mas amanhã logo se vê. Quando os dois estão apaixonados, na verdade estão abrasados, o que corresponde ao descrito por Miguel Esteves Cardoso num dos seus livros quando diz "o amor é fodido e eu adoro fodê-lo contigo".

Para mim, o verdadeiro amor morreu em 9 de Novembro de 1989, com a queda do muro de Berlim e com o fim da Guerra Fria e o seu cadáver arrastou-se durante mais algum tempo. Em Portugal o fenómeno arrastou-se ainda mais do que noutros sítios, fruto do atraso em que vivemos face ao resto do mundo. Não sou de esquerda e não vejo na queda do muro qualquer tipo de Romeu que caiu como forma de se sacrificar pela sua Julieta, mas entendo que a partir daqui a globalização conheceu um avanço indomável e com isso não só a integração económica e cultural como a social e emocional. De repente todos quiseram viver tudo como se não existisse amanhã. De repente a Coca-Cola deixou de ser "a água suja do capitalismo". De repente o culto do "eu" passou a prevalecer sobre o "nós" e o tecnológico passou a ser soberano face ao rudimentar. Toda esta pressa urgente do nosso dia-a-dia poderá também aplicar-se aos relacionamentos. Há que viver o hoje. Se não dá, paciência, vamos ao próximo e ver no que dá. Se me chateia e se não funciona como eu quero, não vale a pena, há que aproveitar o que há no mercado. Acredito que muitas gerações pré-9/11/89 já não saibam o que é o amor e que todos os que sejam pós-9/11/89 só saibam o que era o amor através dos livros e vão chamar-lhe ficção científica ou então, face ao aparecimento de novas categorias de cinema e livros, vão substituir a categoria romance como a conhecemos hoje pela categoria "obsessão".

Face a tudo isto, uma questão afigura-se pertinente: o que é o amor?

publicado por diariodeumfrustrado às 19:32
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