Não gosto do Natal. Sou frio (e não o lamento) ao afirmar que não há diferenças entre o Natal e a hipocrisia: tanto um como o outro são quando o homem quiser e ambos constituem valentes oportunidades para que o outro sobressaia.
O Natal é a fase do cinismo e consegue ser mais "faz de conta" que o Carnaval: subitamente todos se amam, todos sentem um je ne sais quoi que os leva a pensar que podem compensar o tempo perdido e/ou comprar o amor, o respeito e a consideração de todos à sua volta com doces, presentes e votos de sucesso.
O Natal é aquela altura em que me apetece desligar o telemóvel mas apenas não o faço porque isso seria considerar que ele me afecta de tal forma que tenho que me desligar do mundo por causa dele. Todos os anos a história repete-se: gente que está meses sem me falar, sem querer saber de mim, sem se importar com a minha vida ou até sem responder a uma mensagem que eu envio, subitamente muda nos últimos dias do Ano e, qual Grinch com medo de ser atemorizado pelos fantasmas do Natal, decidem mandar mensagens de felicidades e votos de sucesso, abraços e beijos.
Como o Natal e a hipocrisia se confundem, este ano recebi variadíssimas mensagens deste tipo de pessoas. Curiosamente, os que me são próximos e adoptam um comportamento diferente do que descrevi são aqueles que não têm necessidade de dar sinais de vida nessa altura porque já o fazem ao longo dos outros 364 dias.
Não respondi a nenhuma destas mensagens ou chamadas, porque entendi que tal seria entendido como uma validação e reconhecimento de palavras ôcas, sem qualquer sentimento honesto e sincero. Talvez se desmotivem de repetir o gesto para o ano. Poupam dinheiro desnecessário comigo. Não me vou enternecer com a atitude, nem tão-pouco recordar os bons tempos em que eramos próximos.
Dou presentes às pessoas que gosto, quando sinto que o devo fazer. Dou atenção, amor e importo-me com as pessoas sem olhar a dias específicos do calendário gregoriano.
Posso ser corrosivo, mas orgulho-me de não ser hipócrita, falso, desonesto ou cínico.