Dia solarengo, este. Depois de uma noite mal dormida (mais uma), tendo acordado diversas vezes (tem sido habitual nos últimos tempos), vou até à praia fazer exercício (ao menos este hábito saudável tenho). Apanhar sol é bom, fazer exercício também. Morar (temporariamente) perto da praia, ainda melhor. Mal chego à praia, a imagem do costume: famílias, casais, grupos de amigos, etc. Acentuou-se a minha deprimência. Vou para uma zona da praia ligeiramente mais isolada para fazer o meu exercício. Fiquei por lá pouco mais de meia-hora. O suficiente para ver aquele local encher-se de mais casais. Fugi.
Chegado a casa e já com banho tomado dou por mim a pensar em merda. É o costume. Olho pela janela e vejo o movimento na rua. Não é muito, mas é o suficiente para me perturbar. Vejo gente de todos os tipos: das mais básicas e tradicionais que pensam pouco nas coisas, mas vivem mais do que eu e muitos como eu todos juntos, às aparentemente mais cultas e racionais. Todas aparentam um mínimo de felicidade.
Esta minha relação com a janela e com o sol é só o culminar daquilo que é a minha vida interior: ao olhar pela janela vejo a felicidade lá fora. Tento aproximar-me desse estado a que chamam felicidade, indo para o exterior e tentando experimentar as emoções desse mundo. Lido mal com isso, sou corrido, sou atraiçoado, não sei dosear aquilo que experimento. Com o sol é igual. Todos os anos o primeiro banho de praia a sério é sinónimo de escaldão. Nos dois/três dias seguintes essa vermelhidão dá lugar ao bronze, mas o primeiro é tão certo quanto eu estar aqui a escrever estas palavras. Gosto tanto de sol, que quero consumi-lo o mais que puder. Gosto tanto de sol que quando me sinto triste e vazio prefiro nem saber que ele brilha lá fora. Isto traduzido daria qualquer coisa como "I killed the cupid in self defence".
Com o amor é precisamente a mesma coisa. Sei que é bom, sei que faz bem e que tenho muito para dar. Mas torna-se difícil dosear esse sentimento e acabo por consumir quem está comigo. Apesar de tudo se tratar de um grande defeito meu, o que é certo é que não vejo também ninguém esforçar-se para me ensinar a dosear esse sentimento. Antes oiço coisas como "psicopata", "doente", "estranho", "freak" e "aberração". Confesso que este último tarda em sair-me da cabeça.
Como disse, o grande defeito é meu. Mas ainda tenho motivos para me regozijar. Aos poucos vou limando arestas e detectando e corrigindo defeitos em mim. Vou corrigindo estes grandes que afastam toda a gente de perto de mim. Tenho uma forma de sentir especial e diferente, mas não privo ninguém da sua liberdade. Só peço compreensão e paciência, algo que muito pouca gente tem hoje em dia. Aos poucos vou lá... por mim, sozinho, como sempre, a aprender um pouco mais sobre a vida, mas vou lá.