Domingo, 22 de Fevereiro de 2009

362

Ao mesmo tempo que olhava pela janela e tentava esconder-me do sol, decidi que tinha que sair de casa e fazer alguma coisa. Estava a morrer aqui em casa. Cheguei ao carro e olhei-me ao espelho. Fiquei ali a olhar para mim e a pensar nem eu sei bem em quê. Não tenho noção do tempo que ali estive, sei que estive parado a olhar para mim durante algum tempo.

Volto a mim. Não sabia ainda para onde ia, mas tinha que ir... Depois de algum tempo a circular no vazio, decido meter-me na Ponte 25 de Abril. Já em cima do tabuleiro, abrando a marcha do carro. Abrando um pouco mais. Olho para o Rio Tejo e penso: "e se eu acabasse com isto tudo da forma mais digna, em vez de me andar aqui a arrastar e a ser um tropeço para quem se cruza comigo?". Só me interroguei. Mais à frente, já fora da Ponte, acabaria por parar o carro e pensar... continuar a pensar... Parar na Ponte para pensar é que não, não fosse não fazer nada e depois além de continuar mergulhado neste imenso vazio ainda iria apanhar uma valente multa por estar parado em cima da Ponte.

Pensei. Sempre que estou no meio da multidão, sinto-me só, muito só. Simultaneamente, sempre que estou só, sinto-me com más companhias, daquelas que me vão levar para maus caminhos. Essas companhias sou eu. Afinal, o que ando eu aqui a fazer? Algumas pessoas simpatizam comigo, outras até gostam de mim, mas por mais que eu faça ou dê o meu melhor, existe sempre um clima de desconfiança inerente a tudo o que eu faço. Dou o exemplo da D.. Por mais que fizesse e desse o meu melhor, tudo aquilo era visto como engodo, como se estivesse a querer dar-lhe a volta para a ter caída por mim. Por mais que mostrasse quem eu era, no mau era "muito estranho", no bom era porque havia "qualquer coisa que não bate certo". Isto fazia-me confusão. Por exemplo, no tocante aos homossexuais. Sempre lhe disse que não era homofóbico, mas era contra o casamento entre homossexuais. Ela rebatia sempre a dizer que eu era homofóbico e não poderia conhecer os/as amigos/as dela (pelo meio chamava-me "quadrado" e "estúpido"). O mesmo sucedia com outros temas. Isto é muito injusto e desgastante... Por mais que estejamos a mostrar quem somos, a outra pessoa insiste em desconfiar do que estamos a mostrar. Como o exemplo da D. tenho outros com pessoas próximas a mim.

Afinal, se sou uma fraude aos olhos das pessoas e das que me vêem como deve ser não suscito interesse, que ando eu aqui a fazer? Um mero acessório para aquelas que simpatizam/gostam de mim e um "exemplo a não seguir" para quem não nutre um sentimento positivo por mim? Que função é esta que alguém pode ter? Que atentado à dignidade da pessoa humana é este que faz alguém com quase 30 anos, com muito para dar, com vontade de dar e de receber, com trabalho, com vida semi-orientada, honesto e sincero, se sinta assim?! Isto não é vida para ninguém...

Voltei para casa, fechei-me no quarto, fechei o estore e escrevi estes dois textos (posts 361 e 362). Agora vou para a cama. Vou ver se adormeço. Com sorte, vou acordar numa outra vida completamente diferente, onde existe pelo menos uma pessoa que me compreende e que consegue corresponder ao que sinto. Claro que isto é tudo um sonho... um mau/bom sonho. Como tudo nesta vida acaba, garanto que este meu tormento um dia acaba, a bem ou a... menos bem.

publicado por diariodeumfrustrado às 17:36
link | comentar | favorito
8 comentários:
De diariodeumfrustrado a 23 de Fevereiro de 2009 às 08:40
Repara, não é "mais do que chamar a atenção", muitas vezes nem se pretende fazê-lo. Muitas vezes apenas se busca uma solução desesperada e rápida para aquele aperto. Mas também te dou razão, pois sei que existem aqueles que querem chamar a atenção e ameaçam que fazem, mas não fazem, e andam a vida nisso. Ainda assim, acredita, existem muitos casos diferentes...

Bjs
De Isa_ a 23 de Fevereiro de 2009 às 17:22
há imensas alternativas ao suicidio, por ex deixar q o próprio mundo te mate...

mais cedo ou mais tarde vamos todos morrer... como, qd e pq n faz assim tanta diferença... um vivo a morrer tem mais valor do q um morto a viver... vida de zombie n é p mim, à procura de coisas q n me preenchem, nem de longe... prefiro mesmo deixar-me sucumbir, acabar no mais fundo dos poços, do q vergar-me mais uma vez à lógica doentia e louca q me rodeia...

mas isso é a minha opiniao, tu tens a tua... o q tá em causa n é a vida, mas este mundo em q tamos mergulhados q n nos deixa realmente viver... e n, o problema n é o nosso desejo insaciável, o problema é q nem mesmo o desejo mais simples, como o Amor, é realizavel... pois a melhor maneira de matar o desejo é fazer c q ele jamais se realize, causando assim a luta pela vida ou sobrevivencia, q é o q faz girar a máquina do mundo...

de q outra maneira podemos contrariar esta lógica cega e insana senao deixarmos de alimentar a maquina?...

Comentar post

Eu

pesquisar

 

Setembro 2015

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
26
27
28
29
30

Recente

438

437

436

435

434

433

432

431

430

429

Lágrimas passadas

Setembro 2015

Dezembro 2013

Agosto 2013

Junho 2013

Maio 2013

Março 2013

Janeiro 2013

Março 2011

Fevereiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

tags

todas as tags

blogs SAPO

subscrever feeds