Terça-feira, 30 de Outubro de 2007

54

Hoje vi um homem falecer diante de mim. Só dei conta disso quando o INEM o socorria. Vi o homem estendido no chão, e vi a tentativa desesperada daqueles profissionais a tentarem trazer o homem à vida. Sem sucesso. Tiveram que o levar já sem vida depois de bastante tempo a insistir.
O que me prendeu a este cenário não foi a típica curiosidade portuguesa de ver uma desgraça a acontecer diante de si e filmar ou fotografar o evento, como já vi noutras ocasiões. O que me prendeu foi mesmo tentar ver a expressão do homem naquele momento em que falecia e pensar em quem ele terá cá deixado, como estava a sua vida antes daqueles segundos fatídicos, etc. Afinal, o homem circulava por entre lojas e não parecia que algo fizesse adivinhar aquele desfecho. Estaria ele bem consigo mesmo? Poderia ele dizer que podia morrer em paz que aproveitou a sua vida? Terá tudo isto tido origem em algum desfecho ou episódio contínuo da sua vida que culminou com uma crise de ansiedade da qual resultaria a sua morte? Não se sabe... só ele.
Olhei-o mesmo por bastante tempo e interrogo onde estará ele agora. A vida continua noutro lado e de outra forma? Recomeça aqui novamente? Tudo acaba quando se morre? Como será depois? Estaria ele noutro lugar qualquer a ver as insistências dos excepcionais profissionais do INEM em tentar trazê-lo à vida? Será que durante os segundos ou minutos em que ainda estamos vivos, até morrermos, sentimos alguma coisa à nossa volta? Será possível ver o filme da nossa vida durante esse curto espaço de tempo? Será que esse homem não viveu por não ter direito a uma segunda oportunidade? Não seria já uma segunda oportunidade o facto de ainda hoje estar vivo?
São tantas perguntas que faço para mim mesmo naquele momento e às quais não consigo encontrar resposta. Gostava de ter uma segunda oportunidade. Gostava de experimentar perder a vida, saber como é, e poder voltar para contar como foi e agir tendo em conta essa experiência ímpar. Se calhar já tive essa dita segunda oportunidade e também não me dei conta dela. Afinal, daqui a 5 minutos posso ter o mesmo destino do homem. Posso forçar esse destino. Será a mesma coisa?
Olhei para aquele homem nos segundos em que o consegui ver e perguntei-me como seria se fosse comigo. Não encontro resposta, mas um dia saberei como é. Não estarei é cá para contar. No entanto intriga-me aquela velha frase de Platão, quando diz que "viver, não é mais do que recordar". Estaremos nós aqui a recordar tudo aquilo que vivemos antes? Teremos nós já experimentado passar pela morte e reiniciado uma nova vida? Teremos nós sete vidas, como os gatos, dentro desta vida única?
A vida é tão misteriosa e por vezes consegue ser tão bela como desgostosa. Por incrível que pareça, este cenário de hoje fez-me ver na vida uma maravilha. Uma triste maravilha. É maravilhosa pela surpresa, pelos altos e baixos, pelo não saber no que pode acontecer no segundo a seguir. Mas é uma triste maravilha porque ora estamos felizes, ora algo acontece e nos desfaz por completo.
Gosto de ver documentários, reportagens, etc que falem sobre este tipo de perguntas que me formulei. Não porque vá encontrar alguma resposta, mas porque surgem ainda mais perguntas, deixando-me repleto de dúvidas. E eu gosto das dúvidas, pois desafiam-me! Desafiam-me a tentar arriscar e ver... como é!
publicado por diariodeumfrustrado às 16:10
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Segunda-feira, 29 de Outubro de 2007

53

Tive um sonho. Nesse sonho eu estava num Casino, repleto de gente. Estava numa slot machine. Toda a gente centrava as suas atenções em mim. Não sei porquê. Saiu um símbolo, o mais alto para se poder ganhar o jackpot, caso saíssem os três símbolos iguais. Saiu o segundo símbolo, igual ao primeiro. A emoção instalou-se! A adrenalina era enorme! Saiu o terceiro símbolo. Era diferente dos outros dois e acabei por não ganhar nada. Toda a gente virou as costas e voltou à sua vida e eu não ganhei nada.
publicado por diariodeumfrustrado às 10:20
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Domingo, 28 de Outubro de 2007

52

Tenho um grupo de amigos muito porreiro. Agora chamam-me "Emílio Peixe". Era também conhecido como sendo "uma jovem promessa". Para quem não sabe, Emílio Peixe era um jogador do Sporting, que foi considerado no Mundial'91 o melhor jogador do campeonato e era um atleta altamente promissor, quer seria um dos melhores jogadores num futuro a médio prazo, à frente de jogadores como Rui Costa, Figo e João Pinto.
Os anos foram passando, e as circunstâncias da vida relegaram-no para segundo, terceiro, quarto plano, até que se eclipsou. Era uma jovem promessa, possivelmente a maior delas desde há 20 anos para cá. Nunca vingou, nunca foi um jogador de eleição, nem nada que se parecesse e acabou a carreira prematuramente a arrastar-se em campo.
Hoje, já praticamente ninguém se lembra dele, passou ao lado de uma grande carreira, e anda por a vaguear sabe-se lá por onde, sempre com a ideia de ter passado ao lado de uma grande carreira.
Ainda que não digam o motivo de me chamarem Emílio Peixe, é fácil perceber o que querem dizer quando me chamam "Emílio Peixe". Em especial a parte da "jovem promessa". Realmente, dá para ver que sabem que nos belos tempos de Faculdade eu era uma "jovem promessa" do curso que estava a tirar e hoje sou como o Peixe. Eu saber disso, e muitos saberem disso, é uma coisa. Agora, o meu "grupo de amigos" fazer questão de me recordar isso a mim e a terceiros constantemente, é outra coisa completamente diferente.
publicado por diariodeumfrustrado às 12:05
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51

Apanhei-me hoje a deambular a tarde toda ainda nem eu sei bem por onde. Penso na vida. Sempre que encontro uma montra ou um espelho, olho-me bem nos olhos, e tento ver se consigo ver um pouco de beleza na minha alma. Dizem que os olhos são o espelho da alma. Não vejo nada. Vejo só o vazio que se abate sobre mim 24 horas por dia. Sentirmo-nos ôcos por dentro é terrível, é horrível. Sabemos que temos o nosso corpo cheio de músculos, ossos e outros órgãos, mas sentimo-nos completamente vazios. Só sinto o meu coração e este dói muito. De vez em quando sinto a cabeça, e esta pesa. Sinto também as minhas pernas, e parece que por vezes doem, sentem-se cansadas.
Além das pernas, sinto que me dói a alma. Não sei onde. Este vazio é horrível e insiste em não me largar. Sempre achei que nunca fui má pessoa. Sempre fiz tudo em prol dos outros, excepto quando pratiquei coisas que não devia praticar. Mas a consciência pesava... e não era pouco! O vazio é enorme... sinto-me perdido. Sinto que a minha vida não tem sentido.
Eu vim aqui para quê? Alguém me consegue responder a isto? Para fazer os outros felizes? Eu nem me consigo fazer a mim feliz, quanto mais os outros! Depois, quem sou eu para manter a minha presença neste lugar só porque existem terceiros que gostam que eu por cá ande?
Já pensei em mudar de ares, em desaparecer. Acontece que estas coisas quando nos agarram, são como a constipação: podemos ir para onde quer que seja que, se não nos curarmos, a constipação não nos vai deixar nunca!
Pergunto: como me posso curar do vazio tremendo? Como me curar da frustração? Como me tornar mais bonito para as pessoas? Como me tornar mais vulgar em certas coisas? Como arranjar um tacho e um trabalho como deve ser, além do que já fiz?
Andei a tarde toda às voltas, à procura de soluções, à procura de respostas. Venho tão ou mais vazio do que quando fui. Dou comigo a olhar para o ontem e a não dar conta do que está à minha volta. Chego a levar o meu pensamento para o "nada", e a acordar de repente. Penso na minha vida e penso neste diário. Penso nas muitas histórias que ainda tenho por escrever. Penso no que fazer quando acabar de as contar todas.
Porque tenho eu necessidade de viver estas coisas todas? Porquê? Não me identifico com este mundo, nem com estes valores. Tento corresponder ao que me é exigido e sinto que não me coaduno com estes valores, com estas pessoas, com estes ares. As coisas vão soando a estranhas para mim. Vou cada vez mais sentindo que sou estrangeiro neste planeta.
Às vezes tenho momentos de perda de lucidez e parece que se varre tudo da minha memória e chego a pensar "onde estou? Quem sou? O que faço aqui?" e ao fim de segundos volto à realidade. O que é isto? Só queria ser normal... e aceitar a esmagadora maioria das coisas que se me deparam.
Suspiro mil vezes enquanto escrevo este post..
À noite sou convidado para ir jantar à casa de amigos. Por entre tanta gente divertida, dou comigo a pensar em tudo menos naquele momento. A pensar o quanto me começo a não identificar com coisas como a alegria, a felicidade, a diversão. Afinal, o que é isso tudo para alguém que sente um vazio enorme, e tem a sensação que não pertence a este mundo? Como seria se alguém fosse viver subitamente para um país islâmico? Como seria se de repente fôssemos transportados para o século XII, em plena China? É como me sinto: completamente desintegrado. As pessoas falam comigo e raramente consigo desprender o meu pensamento de "pensar na vida" e no quanto isto tudo me custa. Viver está a dar-me trabalho. Aliás, viver está a tornar-se para mim uma forma de escravatura: estou a ser explorado 24 horas por dia e não tenho quaisquer recompensas por estar a fazer-lhe o favor de ainda aqui estar.
A minha vida é um completo vazio. Já tentei arranjar formas de a colorir. Já tentei arranjar formas de dar um rumo, mas... agora apenas me sinto cansado, muito cansado de andar. Não aguento estar no meu quarto, começando a entrar em desespero. Não aguento sair à rua tal é a desilusão que tenho com as coisas e com as pessoas. Chego a entrar em paranóia e em desespero! É tudo tão novo e tão velho para mim.
Sempre que surge qualquer coisa que me faça rir ou sorrir, imagino de imediato a imagem que as pessoas que me vêem naquele momento têm de mim. Imagino o quanto sou feio e o quanto sou ridículo quando rio ou sorrio. O riso, ou o sorriso, param de imediato. Envergonho-me, mesmo não tendo culpa de ser assim.
Tenho definitivamente que arranjar uma solução para isto.
publicado por diariodeumfrustrado às 01:03
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50

Parece-me que a tal pessoa com quem mantinha a relação gostava imenso de mim. Disse no seu blog pessoal que queria manter distância para sempre porque o que pretende agora é paz e pretende curar-se desta "Rodriguite aguda" que tem neste momento, não pretendendo manter contacto com alguém tão imaturo.
Eu sou imaturo porque recusei sofrer indefinidamente. Eu sou imaturo porque quero uma relação onde possa ter contacto e convívio diário com a pessoa.
Enfim... que mais posso eu dizer? É isto o amor?
publicado por diariodeumfrustrado às 00:54
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Sábado, 27 de Outubro de 2007

49

Ontem, mal passou a hora da extracção do Euromilhões, corri para aqui para ver quais tinham sido as bolas sorteadas.
Hoje, mal acordei, corri mais rapidamente ainda para o computador, ainda com os olhos semi-fechados, para ver o Expresso Emprego e os Classificados do Sol.
A desilusão foi praticamente a mesma, e as probabilidades de me saírem as bolas com um emprego como deve ser e que me realize, começam a ser menores do que as probabilidades de me sair o Euromilhões de 6.ª feira.
Começa mesmo a ser mais digno encetar esforços no sentido de me sair o Euromilhões, do que pensar que algum dia vão fazer-me uma proposta de emprego onde se ganhe o devido enquanto mão-de-obra qualificada que sou, com contrato, em vez de recibos verdes, e com possibilidades de integrar os quadros, em vez dos velhos truques chamados "contratos a termo", que na maior parte das vezes só servem para estar à margem da legalidade.
Vamos voltar à terra, porque não me saiu nenhum dos dois Euromilhões. Para a semana, a partir das 18h/19h de 6.ª feira volto a sonhar, e esse sonho só voltará a terminar por volta desta hora do dia seguinte.
Pensando positivo, é uma maneira de me despertar as emoções uma vez por semana. Emoções essas que eu já não tenho praticamente no restante tempo que tenho. A frustração existe quando constato que não me sai nada quer à 6.ª, quer ao sábado, mas é diferente, pois nestas não depende só de mim. Acontece que mesmo não dependendo só de mim, quem nunca ganha é sempre o mesmo: eu.
publicado por diariodeumfrustrado às 11:00
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Sexta-feira, 26 de Outubro de 2007

48

Se eu pusesse um anúncio no jornal, seria publicado qualquer coisa como isto:

"Troca-se: bom par de mamas, por um pouco de personalidade e carácter (um por cada seio)"

"Troca-se: bela noite de sexo louco, por noite de companheirismo e lazer"
publicado por diariodeumfrustrado às 16:47
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47

Em praticamente todas as relações que tive até hoje, ouvi sempre a mesma coisa "é tudo uma questão de tempo", "tens que esperar", "tens que ter paciência para que tudo se resolva".
Sempre que segui estas recomendações, aquilo que pude concluir foi que não fiz mais do que perder tempo: todo aquele tempo de espera, toda aquela paciência, todas as questões de tempo, acabaram por não resultar em nada. Fiquei sem as pessoas, elas ficaram sem mim, e a espera mais não foi do que um "enrolar", um "atirar areia para os olhos", ainda que inconscientemente.
Como deve ser compreensível, coisas como emoção, espera, e esperança, deram lugar precisamente ao oposto.
Pergunto: não tenho eu legitimidade para exigir que as coisas aconteçam no momento presente? Terei eu que passar a vida a aguardar que qualquer coisa se resolva ou qualquer coisa aconteça, com o risco de nunca acontecer, como sempre foi no passado? Os anos de vida que tenho foram não mais do que um ver a vida a passar-me ao lado.
publicado por diariodeumfrustrado às 15:24
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46

Fim do sonho, fim da linha, fim de qualquer coisa que se lhe queira chamar. Como tinha dito, estava a iniciar desde há pouco tempo para cá, uma relação com alguém à distância. Tudo isso acabou ontem porque cada dia que passa é uma tortura para mim. Tenho necessidade de contacto físico e por contacto físico não me refiro a sexo, mas mesmo a olhar olhos nos olhos, a beijar, a abraçar, a mimar, a tocar, a conviver. Essas coisas fazem falta. Sentir "o que a pessoa nos passa" quando estamos perto dela. À distância, a falar através de telemóvel e de uma webcam é extremamente complicado termos estas coisas.
Tentei lutar, é certo, mas a cada da que passava fazia-me mais confusão, torturava-me mais do que me beneficiava. Depois ouvia do outro lado algo como "temos que esperar", mas... "até quando?". E depois do contacto pessoal inicial? Como será? Mais torturante, certamente, isso já eu sei! Aí então é que eu enlouquecia de vez com a distância!!!! Eu ficava a pensar o dia inteiro em formas de podermos estar juntos, mas os planos morriam sempre. Ela dizia que vinha cá, porque tinha possibilidades, daqui a... 3 meses! Mas, e depois disso, quando é que poderíamos ver-nos novamente? Quando a começo a ouvir falar em "se tudo corresse bem, talvez daqui a um ano e meio poderíamos ficar juntos em definitivo", deu-me uma coisa má! Juro que congelei! Já passo a minha vida à espera sempre que algo aconteça, faço qualquer coisa, faço nem eu sei bem o quê, para poder ter algo na minha vida que aconteça como deve ser, e começo a ouvir falar em coisas como "ano e meio", esperar "três meses para nos vermos pouco mais de duas semanas", etc.
Tudo isto deitou-me abaixo. Depois, se conto estas coisas a conhecidos, o que têm para me dizer é "deixa-a vir, ao menos sempre a comes", ou "aproveita e depois passa para outra". Porra! Eu não quero uma mulher... para comer! Não quero estar a "aproveitar", para depois passar para outra! Não é isso que procuro numa relação com alguém, e não é isso que quero das pessoas. Quero uma mulher como deve ser, que possa amar e que me possa amar também, para juntos fazermos um caminho juntos! Se fosse para "comer", existiam formas mais fáceis de o fazer do que passar por isto tudo!
Esta pessoa aparenta ter praticamente tudo a ver comigo (do que pude ver até agora só é diferente na forma de abordagem do tempo de espera), e gostaria de confirmar isso tudo pessoalmente! Aquilo que sinto é sério, e acredito que o que ela sinta também o é. Mas, este tempo de espera, esta "ausência" dela, perturba-me, enlouquece-me, destrói-me! Não consigo continuar "à espera" indefinidamente como ela consegue. Já me disseram também "isso é porque ela tem lá outro tipo e isto serve para ela se divertir". Mas, se fosse assim, porque raio se daria ela ao trabalho de me enviar dezenas de mensagens por dia, de me escrever diversos e-mails, de perder noites a falar comigo? Não faz sentido!
O que é certo é que pus um fim a isto, e continuo a sofrer com o vazio, mas... creio que fiz o mais digno: estava a sofrer em demasia com esta distância. É pena, porque aqui pode estar a pessoa da minha vida, mas não tenho sequer como me mexer, quanto mais poder ficar em definitivo com ela. Creio ter tomado a atitude racional. Agora é deixar sofrer o coração, e deixar a desilusão e a tristeza tomarem conta de mim por ter deixado passar uma grande oportunidade...
publicado por diariodeumfrustrado às 11:06
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Quinta-feira, 25 de Outubro de 2007

45

Antes de entrar na Faculdade, trabalhava. Precisava de ter dinheiro, precisava de pagar as minhas despesas, precisava de sobreviver.
Ao entrar na Faculdade, com o horário que tinha e a exigência dos estudos, fiquei impossibilitado de continuar a trabalhar. Podia trabalhar e estudar, e ficar anos para acabar o curso. Tive que desistir e concentrar-me só nos estudos.
Depois de ter ficado sem o dinheiro, decorrente de um desaire sentimental que muito me abalou, às tantas começou a faltar dinheiro para pagar o curso. Não me refiro só às propinas. Antes fossem essas o mal de todos os cursos. É como um carro: antes o mal dos carros fosse o que se paga para os ter. O verdadeiro problema em todas estas coisas é a manutenção, a administração. Pagar livros, almoços, entre tantas outras coisas, é que custa dinheiro!
O dinheiro escasseou e não podia contar com a ajuda dos mais, dado que um deles me incentivava a não estudar, desde que fiz o 12.º, e me dizia "estudar para quê? Vai mas é trabalhar e fazer dinheiro". Tenho dito que, se soubesse o que sei hoje, teria seguido estes sábios conselhos. Em Portugal são conselhos sábios e no resto do mundo são recomendações de suicídio.
Sem a ajuda dos meus pais, tive que ganhar dinheiro. A única opção para manter um estilo de vida digno, passou pelo mundo do crime. Não, não traficava drogas. Não, não assaltava pessoas, casas e veículos. O ramo foi a burla. A burla simples. Formas de iludir terceiros, conseguindo ganhar dinheiro com isso. Consegui fazer o dinheiro suficiente para pagar um curso e para conseguir viver dentro do limiar da dignidade.
A determinada altura, com a facilidade com que o dinheiro poderia vir, deixei-me entusiasmar e tentei aproximar-me um pouco do nível de vida de todos os "ricos" que eu via à minha volta. Pensei que tinha direito a isso: ninguém tem culpa de não nascer num berço de ouro! Comecei a deixar-me levar pelo consumismo, mas não pelo excessivo. A diferença passou a ser apenas que deixei de sair do limite da dignidade para passar a poder dar-me ao luxo de poder pagar uma entrada numa discoteca, poder pagar um jantar de 15 euros de vez em quando, etc. O restante ia amealhando.
Às tantas consegui uma bolsa de estudos e deixei de imediato esse estilo de vida. Entendi aquilo como se fosse um chamado a dizer que teria que deixar aquilo.
Hoje penso que se calhar devia voltar a essa vida. O jogo da burla, além de lucrativo, é entusiasmante: faz-nos aplicar toda a nossa qualidade intelectual num determinado cenário. Muitos empregos de hoje em dia fazem questão que não usemos essa mesma qualidade que todos nós temos dentro de nós. Raros são os sítios que investem nas capacidades das pessoas, quer a nível de académico, quer a nível profissional. Realmente, por mais irónico que seja, é o crime que realmente compensa: dá-nos oportunidade de darmos o melhor de nós, sem sermos censurados por isso, dá-nos realização pessoal quando vemos que com a nossa capacidade ultrapassamos os desafios, e dá-nos dinheiro! O único senão para que este tipo de via fosse perfeita prende-se com o facto de ser... crime! Caso contrário, teria tudo para ajudar bastante gente a resolver muitos dos seus problemas!
Hoje, a fonte secou: acabou-se a bolsa de estudo, e decidi acabar com esse estilo de vida: mais vale pobre e digno, do que rico e não poder dormir tranquilo com a consciência pesada pelo que se fez com pessoas que não têm absolutamente culpa nenhuma da minha miséria!
Quero que me seja permitido dizer algo: há algo que destaco de positivo com estas experiências: estar deste lado da barricada fez-me ver que existe mesmo "o outro lado da moeda". Cada vez que pego num Correio da Manhã, ou assisto a um boletim noticiário, revolta-me ver acusações a torto e a direito como "bandido", "criminoso", etc. A esmagadora maioria dos crimes são feitos por maldade, sim. Homicídios, tráficos, violações, etc. Mas, existem certos furtos, certos roubos e outro género de pequenos delitos, que são feitos em desespero de causa: são pessoas que estão numa situação limite para a sua sobrevivência e em que já quase não há esperança de saída para o fundo do poço em que se encontram. Essas pessoas, tal como eu, não têm desculpa para fazerem o que fizeram e não devem passar sem pagar pelo que fizeram, mas... essas poucas que fizeram o que fizeram em desespero de causa, têm um motivo forte, que as obrigou a ter tal conduta. Isso deve pelo menos dar que pensar!
publicado por diariodeumfrustrado às 10:07
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