Ontem um amigo meu procurou-me via MSN para desabafar. Não há porque censurar o meio. MSN, telemóvel, pessoalmente, por carta, cada um lá sabe o meio em que se sente mais confortável para o fazer. Eu, por exemplo, recorro muitas vezes a este canto e não deixa de ser tão legítimo como outro qualquer.
Depois de cerca de uma hora a ouvi-lo, a tentar perceber o que o afligia e a tentar dar alguns conselhos, eis que se não consegui pôr o rapaz mais feliz, pelo menos fi-lo sentir-se mais aliviado e a ver as coisas de forma diferente.
Ultrapassada esta fase, eis que o abordo eu sobre os meus problemas e eis que recebo silêncio e "pois...". A situação chegou a tal ponto que os vários "pois..." eram intervalados por espaços longos de silêncio. Face a esta situação, desarmei a tenda, arrumei a trouxa e retirei-me.
Que comentários há a fazer perante uma situação destas?
Alguém sabe o quão dura é a solidão? Alguém sabe o que custa não ter ninguém para partilhar um momento (bom ou mau) quando supostamente devíamos estar no auge da vida?
Voltei.
Pensei ter debelado os meus males interiores e os golpes que me inflijo constantemente. Não sei contornar o problema por um simples motivo: sinto-me a perder cada vez mais o bom senso. O pouco que tinha ia perdendo aos poucos mas o processo tem-se acelerado significativamente.
Para ser muito honesto, não tenho noção do bem e do mal ou do que é certo e do que é errado Não sei distinguir o que é sério da brincadeira ou o amor do ódio. Não sei distinguir o possível do impossível, o que por vezes me leva a não tomar atitudes banais com medo de falhar ou a tentar atingir o inatingível, valendo-me grandes desilusões, mas também algumas surpresas.
A baralhação é tanta que por vezes sinto-me como se habitasse uma máquina, à qual chamamos corpo, e sinto que o processador central está prestes a entrar em colapso, chegando mesmo a sentir náuseas e vontade de desmaiar. O meu sistema central processa milhares de megabytes de informação à velocidade da luz e nunca emite conclusões.
Perdi o brilho nos olhos e a vontade de sorrir. Sorrio por favor porque só tenho duas faces: a de muito sério ou a de riso. Como com a primeira as pessoas me acusam de ser antipático e "militar", prefiro forçar a última, pois sempre dá um ar mais agradável aos outros. Mesmo assim, tendem a abusar sem que eu dê conta e quando penso que estou a ver abusos as pessoas são sinceras. Não sei distinguir situações ou realidades. Já não posso dizer que tenha bom senso.
Quando era pequeno tinham a mania de me corrigir por tudo e por nada. E a correcção por vezes implicava agressão desnecessária. Por vezes perguntava porquê e raramente escutava uma resposta do outro lado. Quando vinha era um duro "porque sim" ou "porque não". Nunca soube distinguir situações, mas houve uma altura em que julgava que aos poucos a situação estava a mudar de rumo. Foi só até concluir que "só sei que nada sei" e deixar a máquina entrar em pré-colapso na tentativa de se poder ajustar a valores e padrões que ainda hoje não consigo perceber. O Ser Humano baralha-me. A sociedade baralha-me. Desde que me conheço por gente...
Não tenho muito jeito para a cozinha e por isso andei meses a pedir à minha mãe para que me fizesse um prato que tinha ouvido falar diversas vezes e que me tinha suscitado a curiosidade. Após tanto tempo, insisti uma última vez e o resto da conversa foi:
- Tu não gostas disso... - disse a minha mãe.
- Nunca vou saber se não provar, mas aquilo tem bom aspecto.
- Não, tu não gostas disso...
Desisti. Esta história foi com comida, mas durante anos foi este o cenário para tudo desde criança: "tenho calor"/"mas está frio lá fora"; "a comida está a ferver"/"não está nada, está boa, come".
Estou em fase de pré-colapso, e sinto que a qualquer minuto vou dar curto-circuito. Não tenho noção da realidade e não sei comportar-me em sociedade...