Sábado, 29 de Maio de 2010

409

Os aniversários são ingratos. Quando levamos uma empresa de pequena dimensão até à glória e a tiramos do anonimato, pondo-a a render e a atingir um nível elevado de produção, assumindo um papel importante na economia local, habituamo-nos a uma qualidade de vida à qual dificilmente reagiremos de forma positiva se no-la tirarem.

A partir do momento em que isso aconteça, é preciso ter muita frieza de ânimo para conseguir responder de forma adequada, a qual não servirá de nada se não tivermos paciência, muita paciência.

Habituei-me à fama, à vida de celebridade, depois de ter aparecido do nada. Cheguei ao patamar máximo sem querer. Tudo se foi desenrolando de forma tão natural que quando dei conta já estava no topo.

Caí abruptamente. Voltei à estaca zero. Custei a habituar-me novamente ao mesmo estilo de vida. Sou uma pessoa que gosta de atenção e precisa de atenção, talvez porque nunca a tive. Nem a atenção dada pela família corresponde às minhas necessidades diárias. Sim, sei que há casos bem diferentes do meu e até os há de caprichos pessoais. Antes este último fosse o meu caso.

Os aniversários são uma oportunidade única para se voltar a ser estrela por um dia. Durante 24 horas dão-nos toda a atenção - este período é reduzido a cerca de 12h30m se considerarmos que só se lembram de nós entre a meia-noite e a uma da manhã e entre as 8h30 e as 20h. A hora de almoço é a de maior pico, há que aproveitá-la. Para todos os efeitos, somos estrelas durante algumas horas sem que seja por motivos negativos. Isso é bom! Há que aproveitar, porque tal oportunidade é como alguns cometas e só volta a aparecer daí a 365 dias.

Por 12h30m iludimo-nos e julgamo-nos acarinhados e amados, depois de até horas antes carregarmos o rótulo de "insignificante". Subitamente, o glamour, o brilho, a atenção e a fama terminam. Acabou-se a ilusão quando estavamos a gostar da sensação. Voltamos a ser banais e caímos novamente no esquecimento.

Os meus aniversários conseguem ser os meus momentos de maior felicidade, apesar de toda a falsidade que muitas vezes acarreta. Já que são para se celebrar, não me importo de ser iludido. Sempre são momentos de felicidade fugazes, numa vida tão vazia e sem grande sentido. Ainda assim, sei que o cenário mais confortável seria a não celebração dos aniversários em casos de pessoas como eu. Como dizia Kurt Cobain "I miss the confort in being sad". É, de facto, mais fácil permanecer na situação de anonimato e esquecimento de forma constante, do que ter altos e baixos, com momentos de glória e outros de censura popular.

Sou a favor da celebração dos aniversários durante, pelo menos, uma semana (já que é impossível celebrar-se durante um ano inteiro)! 12h30m é manifestamente pouco. Devíamos ter toda a gente à nossa volta (o que no meu caso são cada vez menos) durante uma semana a acarinhar-nos e a mostrar o seu apreço por nós (ainda que falso no caso de alguns). Sabe bem este tipo de manifestações e celebrações. Mas não há dor maior do que cair no vazio e no esquecimento tão rapidamente quanto a forma como se chegou à ribalta e ao centro do mundo.

publicado por diariodeumfrustrado às 09:43
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Terça-feira, 18 de Maio de 2010

408

Existem dois tipos de pessoas na minha vida: os que me amam e os que me odeiam. É verdade, soa a cliché, mas não é. Já me orgulhei muito deste facto e até bati com a mão no peito como que ratificando-o, mas hoje não penso desta maneira. Longe vão os tempos em que era bastante social. Hoje estou completamente afastado destes "palcos" e sou pouco dado a amizades. Sei, vejo e sinto que tenho grandes dificuldades em consolidar amizades.

Por norma, e voltando à primeira ideia, quem se cruza comigo não espera para me conhecer, antes assume uma de duas posturas:

a) "engraça" comigo e cai nos meus encantos;

b) fica desconfiado relativamente à minha pessoa, vendo-me como ameaça, potencial inimigo, pessoa digna de pouca confiança, etc.

Raramente, existem ainda aqueles que sentem "indiferença".

 

Com base na primeira imagem que têm de mim adoptam um destes comportamentos. A partir daqui, conseguir afastar esta imagem e mostrar simplesmente como sou pode revelar-se uma tarefa hercúlea! Ao longo de todos estes anos de vida que conto até agora sempre foi assim. A diferença é que antes não me preocupava com o que pensavam de mim. Actualmente dou por mim a pensar sobre "o que está errado em mim" para tentar mudar.

Algumas pessoas espalham magia por onde quer que passem. As pessoas ficam aos seus pés. Derretem-se. São quase aclamadas. Basta-lhes estarem presentes para serem requisitadas. Outros são completamente indiferentes e alvo de rejeição social. Depois temos os "meio-termo" que lá se vão adaptando às modas da sociedade.

Será que assim como existem as ditas feromonas, que alimentam a atracção entre homens e mulheres, alguns de nós também produzem e emitem um tipo específico de "hormonas" que leva a que a maioria das pessoas crie repulsa relativamente a nós? E os que "espalham magia"? Emitem outra "hormona" diferente desta nossa?

Sinto-me devastado por saber que não me dão a oportunidade para me conhecer e dos poucos que dão, alguns colocam-me sobre um regime de tolerância zero e à primeira potencial falha... já passei à história. Se no passado tinha força para enfrentar e vencer o mundo, neste momento sinto-me sem força ou motivação para ilidir as presunções que se criam e deixo que estas se formem nas minhas barbas, sem nada fazer...

publicado por diariodeumfrustrado às 21:15
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Terça-feira, 4 de Maio de 2010

407

Como já tive oportunidade de referir aqui, em tempos cometi alguns actos dos quais actualmente não me orgulho. De início eram um desafio, mas com o tempo foram pesando na consciência, até que, quando consegui encontrar um mínimo de estabilidade financeira, tive o prazer de os deixar definitivamente de lado. Sempre tive habilidade para conseguir praticá-los deixando um traço de legalidade que me permitisse escapar a uma (merecida) sanção. Hoje orgulho-me de investir toda essa habilidade para os fins correctos e posso dizer que com relativo sucesso.

Porém, apesar de ter escapado às sanções em tempos, acabei por ser condenado a pena de prisão posteriormente sem que soubesse disso. Encontro-me a cumprir uma pena não inferior a 5 anos, com a atenuante de ser retribuído por isso. Não gozo de liberdade. Rodeiam-me algumas pessoas com experiência disto, algumas com experiência de outros estabelecimentos prisionais e que confessam que se perderem os vícios que têm no presente momento farão de tudo para regressar ao anterior pouso.

Os meus colegas de cela não gostam de mim e eu não percebo porquê. Se cometi nova série de crimes, desta vez contra eles, posso garantir que desconhecia que os estava a praticar! Mas não me quero ver envolvido em nenhum processo kafkiano, sendo condenado a cumprir uma pena além da que cumpro sem saber em que consiste, a sua duração ou sequer os factos de que sou acusado e que me levaram à condenação! Por uma questão de justiça, não me parece justo. Exijo ter conhecimento dos factos, quiçá defender-me das acusações e, se não for suficiente, pelo menos saber durante quanto tempo terei que cumprir a pena.

Como em qualquer prisão, nesta em que me encontro o boato e o rumor já circulou. Não sei qual, nem a quantas celas já chegou, mas sei que os meus colegas de cela são bons em difundir mensagens sobre terceiros e eu não sou excepção à regra. Quando aqui cheguei, a comissão de boas vindas, por entre sorrisos e palmadas nas costas, fez questão de me pôr a par do "joio". Hoje noto que em algumas celas, aqueles que outrora me receberam com simpatia, agora fingem que eu não estou presente, fingem que não me ouvem ou vêem e ignoram-me. É certo que se os confrontar com estes factos vão dizer que sou eu que tenho a mania da perseguição. Também é típico. Ainda assim, seria bom que olhassem bem para as suas costas, pois vivem num mundo de falsidade e ilusão, julgando que têm verdadeiros comparsas, quando na verdade têm amigos de conveniência.

Quando as coisas azedarem e pisarem os calos uns aos outros, aí terão oportunidade para verem quem são os verdadeiros amigos. Verdadeiros amigos esses que eu, durante algum tempo, julguei ter na prisão. Sinto-me traído. Tenho esse direito. Desconheço ter feito mal a quem quer que fosse (juro que desconheço) e tratam-me como se tivesse sido o autor de homicídios contra as suas famílias. Não fui. E sempre que me ofereci, fi-lo de coração!

Entretanto, eu aceito a pena principal que cumpro. É merecida. Já a outra deve ter vindo em bónus...

publicado por diariodeumfrustrado às 23:33
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