Sábado, 17 de Julho de 2010

414

Sinto falta de ter o excesso de tempo livre que tenho. Ocupo-o com nada e não dou conta dele passar. Quem inventou a relatividade do tempo, mente. Não precisamos de estar numa situação que nos dá prazer para que este passe depressa. Basta que nos sentemos e olhemos para uma tela vazia, em branco, dia após dia, e que sintamos que o sangue que nos corre nas veias corre à mesma velocidade que a vida e quando subitamente acordamos desta fase de meditação, vemos que aquela nos passou de tal forma ao lado que damos por nós no mesmo nível de maturidade e evolução humana de há 10 anos atrás.

Viajei para o futuro? É provável. Sinto que temporalmente avancei vários anos, mas, sou exactamente o mesmo, sem desenvolvimento. Continuo o mesmo "Rodrigo Azevedo trial version 1.0" que foi lançado há bem mais de uma década no mundo dos adultos e desde então sente-se um autêntico Mogli, qual estranho numa terra estranha - a propósito, bom livro, este, de Robert A. Heinlein, que marcou a minha adolescência.

Sinto-me à deriva, no meio do Pacífico (onde, aliás, nunca estive), de braços e pernas bem abertos e esticados (velho truque para qualquer um se manter à superfície em água salgada), e espero que a corrente me leve a qualquer destino. Já remei muito, já nadei imenso, e, depois da minha embarcação ter sido pilhada por piratas, sinto-me sem forças para canalizar os meus esforços em algo que a qualquer segundo pode acabar em mãos alheias, que não lhe dará o devido valor.

Perdi o que de mais precioso tinha. É certo que era um coração e até podia ser de pechisbeque para quem o levou, mas era o meu coração e para mim era ouro puro! Ao menos levassem-no e cuidassem dele, mas os piratas acharam-no pouco valioso e deitaram-no ao mar. No mesmo instante transformou-se em pedra e foi ao fundo do Oceano. Não mais o consegui agarrar. Desde então encontrei uma boa solução para me proteger dos ataques destes criminosos: hipotequei os meus bens, abdiquei do meu património. Ninguém pode roubar quem nada tem.

Tudo isto me confunde e leva-me a procurar caminhos que me permitam adaptar e tomar um rumo. Drogas? Isso é coisa de meninos. Encher-se de substâncias para fugir à realidade da vida é coisa de meninos. Homem que é homem rejeita iludir-se e tornar-se dependente do que quer que seja. Homem que é homem sacrifica-se e enfrenta a vida tal como ela é: é como fazer uma endoscopia e uma colonoscopia ao mesmo tempo e a frio, sem anestesias!

música: The Walkmen - Everyone Who Pretended To Like Me Is Gone
publicado por diariodeumfrustrado às 22:39
link | comentar | ver comentários (4) | favorito
Domingo, 4 de Julho de 2010

413

Ir de férias, ou "como estar longe de casa nos leva a comer tudo o que não presta só porque é barato". Para mim, ir de férias tem destas coisas: más escolhas (que novidade). Iniciei o meu curto período de férias com uma deslocação. O planeamento de tudo foi organizado com uma máxima "aproveitar o máximo, gastando o menos possível". Já devia estar cansado de saber que são raros os casos em que querer ter o melhor sem gastar dá bom resultado. Mas, afinal, também tenho o meu quê de cidadão comum e foi com esta premissa que me preparei. Acabei por acordar quando no primeiro dia de viagem dou por mim a comer numa cadeia de fast food, algo que não faço nos restantes dias do ano! Afinal, que raio de pensamento tacanho é este que me faz derreter dinheiro em coisas absurdas mas sempre que chega à época de férias "há que fazer contenção", mesmo que isso implique andar a pé 10km só porque quero poupar e não estou disposto a gastar 5 euros num meio de transporte.

Acordei (depois de anos a cometer os mesmos erros) e decidi dar-me o melhor em alimentação e no que fosse necessário para me facilitar a estadia. Já dizia um certo treinador brasileiro, que nunca deu nada a Portugal mas que é idolatrado por muita gente: "o ruim é que é caro". Nisto tem toda a razão. Uma coisa há, porém, de que não faço muita questão de abdicar: dormida. Para mim, desde que tenha uma cama e o local seja higiénico e bem localizado, pode ser o mais baratucho, que aceito! Para mim, não faz muito sentido gastar rios de dinheiro em hotéis de quatro e/ou cinco estrelas quando passo, normalmente, os dias inteiros fora do local de dormida e viajo sozinho.

Outro mistério das viagens que faço é o da figura do tuga, que paira em todo o lado. É impressionante: acho que até em Vanuatu deve haver pelo menos um português com uma loja aberta em Port Vila (sim, fui ver ao google qual era a capital de Vanuatu) ou a fazer turismo por aquelas bandas. O mais engraçado não é saber que há portugueses em tudo quanto é canto, mas a forma como os mesmos são identificáveis à distância: as mulheres ou andam com sapatos de vela ou com botas de cunha (daquelas baratuchas). Quanto aos homens já depende da idade: se forem jovens, reconhecemo-los pelo cabelo à frente dos olhos (o velho estilo morangos com açúcar) juntamente com o kit pólo Quebra-Mar, calções/boxers e sapatos de vela sem meias (valha-nos isso). Se estiverem na meia idade, o fio de ouro à mostra os anéis são certos e agora está também na moda descolorarem o cabelo ou fazerem madeixas e vestirem sweats das mais variadas cores (do rosa choque ao verde florescente), com brilhantes e tendencialmente de lycra para poderem salientar ainda mais o barril de 50l de cerveja que têm em vez da barriga. Resumindo, com 40/50 querem vestir-se da forma que não se vestiram quando tinham 20.

Outro factor a ter em conta é o nome dos descendentes de portugueses radicados noutros países. De Jonathan Silva a Lindsay Peralta, passando pelo Pierre Santos e pela Corinne Lopes. Sim, eu sei, isto não tem muito para desenvolver, apenas achei que devia partilhar a curiosidade.

É graças a estes fenómenos que me interrogo sobre se não estou a obedecer ao sr. Presidente da República quando este nos "sugere" que façamos férias "cá dentro": se os portugueses estão em todo o lado e os valores das sociedades em que se encontram acolhem cada vez mais os padrões portugueses, ir para qualquer destino do mundo inteiro não é ir, também, "cá dentro" mesmo estando a ir "bem lá para fora"? Vou mais longe ainda neste meu raciocínio: os PALOP, o Brasil, os EUA, França, Reino Unido e a Alemanha são praticamente Portugal e o Luxemburgo é uma verdadeira colónia portuguesa do século XXI - existem mais portugueses no Luxemburgo do que nos Açores e, tirando o Duque, a população deste país é... portuguesa! Não são estes países Portugal?

Ir de férias tem destas coisas e não se chama silly season por acaso. É por ser silly que as reflexões que faço sobre as férias são tão básicas quanto este artigo que acabei de escrever, mas ao menos ainda aprendi duas coisas: a primeira, que não faz sentido derreter dinheiro ao longo do ano em coisas inexplicáveis e quando chega as férias sacrifico-me como se fosse um sem abrigo etíope; a segunda, que, infelizmente, continua a ficar mais em conta conhecer outras culturas e realidades do que as de algumas regiões portuguesas, tal a forma estupidamente cara com que nos é cobrada habitualmente essa mesma curiosidade: de custos de transporte (portagens, voos, gasolinas, entre outros meios), passando pela hospedagem e pela estadia, Portugal é um destino absurdamente caro!

publicado por diariodeumfrustrado às 18:43
link | comentar | ver comentários (2) | favorito

Eu

pesquisar

 

Setembro 2015

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
26
27
28
29
30

Recente

438

437

436

435

434

433

432

431

430

429

Lágrimas passadas

Setembro 2015

Dezembro 2013

Agosto 2013

Junho 2013

Maio 2013

Março 2013

Janeiro 2013

Março 2011

Fevereiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

tags

todas as tags

blogs SAPO

subscrever feeds