Completam-se hoje 10 (dez) anos desde que o pai da B. faleceu. Para todos os efeitos, quando faleceu, ela ainda era relativamente nova. Aliás, somos sempre "demasiado novos" para perdermos um pai, uma mãe, um irmão, um parceiro de vida. Nunca teremos "idade suficiente" para enfrentar a morte de um destes actores, partindo do princípio que todos têm um papel bastante activo na nossa vida. Mas, ainda que haja por aí alguém que não tenha o pai, a mãe, ou um irmão biológicos, com papel activo, há sempre alguém que se arrola destes títulos e que desempenham na perfeição o papel de "pai", "mãe", "irmão". Não inclui aqui o "parceiro de vida", porque esse nunca é biológico por natureza e caso alguém falhe no desempenho do papel, certamente existirá a esperança de alguém o cumprir. É diferente.
Não tenho pena da B.. Estas fatalidades acontecem. São situações bastante tristes. No entanto estou solidário com ela. Estou com ela. De facto, deve ser um pesadelo perder um destes intervenientes da nossa vida. Subitamente ficamos com uma lacuna enorme, que muito dificilmente é preenchida. Em praticamente todos os casos, chega mesmo a ser impossível. A B. nunca conseguiu suprir a falta do pai. Se calhar, ainda bem. O pai dela é insubstituível e é da maneira que hoje, 10 anos depois da sua morte, ainda o recorda com saudade, mantendo-o vivo para si! Ela lamenta o facto de mais ninguém (a mãe) se lembrar de o manter vivo, de o recordar, mas... não há nada a fazer. Ela é adulta, ela sabe o que quer, pensa, faz e... tem que aceitar, por mais revoltante que seja, que a mãe tenha optado por esquecer o seu "parceiro de vida".
Penso ainda se esta situação fosse comigo. Sei que um dia vai ser. Um dia, todos os personagens importantes da minha família vão partir. Se calhar até serei eu a ir antes de todos eles. Se as coisas seguirem o seu curso natural, é provável que os meus pais e uma das minhas irmãs, vão à minha frente. Entre mim e a minha "parceira de vida", será um duelo que travaremos os dois para ver quem fica, mas... sinceramente, não é o duelo que me apeteça disputar. Será muito difícil para mim se for ela a partir primeiro, e será muito difícil para ela se for eu a partir primeiro. Não quero pensar nisso, porque teremos muitos e bons anos para aproveitar e isso está longe de ser uma preocupação entre nós. Porém, não posso esquecer que um dia vou perder os meus pais, e só de pensar nisso... fico de rastos.
Penso no exemplo da minha mãe: perdeu uma irmã com apenas seis meses de vida, vítima de pneumonia. Muito pouco tempo para se criar laços, mas não deixou de ser uma irmã que perdeu. Sempre evitei falar nisso com os meus avós, não porque eles referissem que lhes custava falar no tema, mas porque por mais que não o admitam, é sempre doloroso.
Hoje é um dia triste para a B., e também eu estou triste, por saber e sentir que ela está assim bastante em baixo. No entanto, enquanto "parceiro de vida" que sou, não posso deixar-me mergulhar nessa tristeza, nem deixar também que ela se afunde nela, e estou cá para a tentar animar, para lhe segurar na mão e mantê-la ao de cima! Ajudo-a a ultrapassar a dor e a saudade, e espero fazê-la perceber que ela está aqui... bem viva, e é uma autêntica guerreira da vida, que muito lutou e que muito continuará a lutar pela sua sobrevivência! O pai da B., onde quer que esteja, tem muito orgulho na filha que tem! É boa Filha, é boa Mulher, é boa "parceira de vida"! E no que depender de mim, manterá sempre estas três qualidades!