Soube recentemente que a pessoa que mencionei, por exemplo, aqui foi mãe há pouco tempo. Não tenho qualquer sentimento por ela, a paixão passou entretanto, mas não posso deixar de sentir um sabor agridoce. Tivemos uma história que se resume àquilo que a Marina Lima chamou de "Fullgás", uma junção de fugaz com a todo o gás. Tivemos uma história bonita, com direito a drama, ao suspense, ao melhor que o romance consegue produzir - com direito a paisagens e locais condizentes - e ao sofrimento e ao fatalismo tão típicos de Bollywood. Foi bom, ficou o amargo de não ter havido continuidade. Passou, mas não foi esquecido. E agora, anos depois, saber que foi mãe, foi como se tudo finalmente tivesse acabado. É como a mãe que perde o filho e só anos depois encontram o cadáver. Finalmente pode fazer o luto. Eu não tinha esperanças do que quer que fosse. Nem pensava no assunto, mas o frisson quando sabia notícias era inevitável. Como se se pudesse corrigir o passado. E eu intrigava-me porque motivo sentia aquilo, se pelo vazio que sentia por não ter encontrado uma companheira entretanto, se por alguma labareda que ficou por apagar e se manteve acesa sem dar conta disso. Voltou a casar, teve um filho. Fiz o meu luto. Talvez por isso fique o amargo na boca. Afinal, bem dizia António Variações: "tudo o que acaba me deprime, mais pelo fim que pelo acto em si".